2.01.2008

Oração do Milho

Fui o angu pesado e constante do escravo na exaustão do eito
Sou a broa grosseira e modesta do pequeno sitiante
Sou farinha econômica do proletário
Sou a polenta do imigrante e miga dos que começam a vida em terra estranha
Alimento de porcos e do triste um de carga
O que me planta não leva comércio, nem avantaja dinheiro
Sou apenas a fartura generosa e despreocupada dos paióis
Sou o cocho abastecido donde rumina o gado
Sou o cacarejo alegre das poedeiras à volta dos seus ninhos
Sou a pobreza vegetal agradecida a Vós,
Senhor,Que me fizeste necessário e humilde
Sou o milho.
Cora Coralina