6.01.2011

É junho,tempo do milho!

Senhor, nada valho.

Sou a planta humilde dos quintais pequenos e das lavouras pobres.

Meu grão, perdido por acaso,

nasce e cresce na terra descuidada.

Ponho folhas e haste, e se me ajudardes, Senhor,

mesmo planta de acaso, solitária,

dou espigas e devolvo em muitos grãos

o grão perdido inicial, salvo por milagre,

que a terra fecundou.

Sou a planta primária da lavoura.

Não me pertence a hierarquia tradicional do trigo

e de mim não se faz o pão alvo universal.

O Justo não me consagrou Pão de Vida, nem lugar me foi dado nos altares.

Sou apenas o alimento forte e substancial dos que

trabalham a terra, onde não vinga o trigo nobre.

Sou de origem obscura e de ascendência pobre,

alimento de rústicos e animais de jugo.

Quando os deuses da Hélade corriam pelos bosques,

coroados de rosas e de espigas,

quando os hebreus iam em longas caravanas

buscar na terra do Egito o trigo dos faraós,

quando Rute respigava cantando nas searas de Booz

e Jesus abençoava os trigais maduros,

eu era apenas o bró nativo das tabas ameríndias.

Fui o angu pesado e constante do escravo na exaustão do eito.

Sou broa grosseira e modesta do pequeno sitiante.

Sou a farinha econômica do proletário.

Sou a polenta do imigrante e a miga dos que começam a vida em terra estranha.

Alimento de porcos e do triste um de carga.

O que me planta não levanta comércio, nem avantaja dinheiro.

Sou apenas a fartura generosa e despreocupada dos paióis.

Sou o cocho abastecido donde rumina o gado.

Sou o canto festivo dos galos na glória do dia que amanhece.

Sou o cacarejo alegre das poedeiras à volta dos seus ninhos.

Sou a pobreza vegetal agradecida a Vós, Senhor,

que me fizeste necessário e humilde.

Sou o milho.

Oração do milho - Cora Coralina
Uma das coisas que mais admiro no povo do interior é a simplicidade de como aceitam as dificuldades da vida com dignidade e humildade. A beleza de como vêem as coisas é para ser exemplo para quem vive na cidade grande que está sempre correndo,estressado, procurando o que nunca acham. E toma anti ansiolitico para ver se acalma. Engraçado que a turma das metrópoles chama o pessoal da roça de parado, lento,de que não faz nada, "mas como você aguenta viver aqui?" é uma das frases que mais devem escutar.e na verdade verdadeira, quem tem a vida ideal e que realmente vive bem é o capira

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